Índice de Artigos

O Plano Agache

Os ideários das artes e do urbanismo moderno começavam a chegar ao Brasil, após o grande evento contestatório ao statu quo, de 1922, bem conhecido como Semana de Arte Moderna. Tendo sido nomeado prefeito da cidade do Rio de Janeiro o fazendeiro paulista Antonio da Silva Prado Junior (1926-30), imbuído de novos conceitos, convidou, em julho de 1927, o arquiteto francês, Alfred Agache, secretário geral da Société Française des Urbanistes, para formular um plano de remodelação e embelezamento da cidade.

Agache, porém, não era o modernista revolucionário sonhado pelos organizadores da Semana de 1922; ao contrário, era um adepto dos critérios acadêmicos propugnados pela École de Beaux-Arts de Paris. Entendia o urbanismo como o "conjunto de regras aplicadas ao melhoramento das edificações, do arruamento, da circulação e do descongestionamento das artérias públicas". Esteticamente, ele defendia a monumentalidade e a suntuosidade dos prédios destinados às funções públicas. Mas, segundo a arquiteta Vera Rezende, autora do livro Planejamento urbano e ideologia: quatro planos para a cidade do Rio de Janeiro (1982), Agache incorporava o ideário da oligarquia rural brasileira, já em declínio, representada por Prado Junior.

Transformações urbanas início do século XX

Espaços livres e reservas arborizadas
Perspectiva aérea do Centro monumental e dos bairros de intercâmbio e dos negócios idealizada pelo Professor D. Alfredo Agache
Esplanada do Castelo e Ponta do Calabouço projeto organizado pelo Arquiteto Urbanista pelo Professor Dalf. Agache

Fazia concessões "à parte da burguesia que já se aproxima do poder e que habita a cidade, empreendendo as mudanças necessárias ao desenvolvimento urbano e sua adequação ao sistema capitalista". A contratação de um arquiteto de prestígio na França vinha ao encontro das "aspirações da burguesia e a inspiração em um modelo europeu de cidade desenvolvida".

Para auxiliá-lo, Agache trouxe os arquitetos E. de Gröer e W. Palachon e o engenheiro sanitarista A. Duffieux. O trabalho dessa equipe é considerado pelos estudiosos como o primeiro Plano Diretor completo e dentro dos parâmetros do moderno urbanismo internacional.

O plano foi pouco aplicado em decorrência da prática política marcada pela descontinuidade, segundo a qual o novo prefeito não devia dar sequência às obras e aos projetos de seu antecessor.

Nireu Cavalcanti
Arquiteto e historiador
Professor na Pós-Graduação da Escola de Arquitetura e Urbanismo/UFF
Autor de O Rio de Janeiro setecentista (Jorge Zahar Ed.)

* Excerto do artigo O problema da urbanização e o papel da política do Brasil, apresentado na Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto – Japão, jan. 2006.

Você não tem permissão para postar comentários